Até os três anos de idade as mordidas são conhecidas, comuns entre as crianças, mas sempre preocupam pais e professores. Para entender o fato, é preciso voltar nossa atenção para o desenvolvimento físico e emocional das crianças.
O mundo pela boca
Crianças pequenas têm interesse e curiosidade por tudo que há à sua volta. A grande interação com o mundo, todos sabem, principia pela boca, por onde o indivíduo faz importantes descobertas separando o que o constitui e o que constitui o outro. Significativas sensações de prazer físico, psíquico e social acontecem nesse período que acompanha a dentição.
Na fase oral encontramos, com freqüência, a criança mastigando, sugando, chupando, produzindo sons, levando objetos à boca e mordendo. Desejando conhecer o outro, apropriar-se dele (coisas e pessoas) manifesta-se desse modo, com essa agressividade primitiva.
É meu!
É claro que um pouco mais tarde a mordida ganha nova feição, passando a ser um modo de chamar a atenção mais rapidamente, ou como resposta a um desejo contrariado (antes o choro era o recurso mais utilizado para isso). Normalmente essa criança ainda não fala com tanta fluência, articula as palavras com alguma lentidão e sabe que com essa abordagem mais "enfática" resolverá mil vezes mais rapidamente a disputa pelo brinquedo. Apesar de sabermos que essas manifestações agressivas na infância não resultam na constituição de um sujeito violento na idade adulta, é claro que esse comportamento deve ser desestimulado. Com a estruturação da linguagem e do pensamento, com a construção da razão, a criança encontra estratégias mais refinadas para resolver os conflitos.
Em situações estressantes, esse tipo de reação também não é algo raro. Mães e professores têm relatos de crianças que, em meio a um grande número de pessoas, como em festas, por exemplo, mordem por ansiedade e insegurança. Alguns momentos na vida da família também podem detonar irritabilidade e agressões: um irmãozinho chegando ou recém nascido; separação dos pais; mudança de casa; todos são exemplos muito comuns. Ainda devemos nos lembrar dos filhos únicos e mais possessivos, que costumam ter um baixo nível de tolerância.
Ajudando a criança que morde
Cabe-nos ajudar tanto a criança que morde quanto a que sofre as investidas, identificando as razões das mordidas e interrompendo o processo para evitar a instalação da agressividade no grupo. Dê possibilidade ao seu filho ou aluno de expressar o que ele sente para que compreenda o que está acontecendo consigo. Quando ele não souber dizer porque mordeu o colega, experimente oferecer-lhe algumas opções.
Fora da situação que os ânimos estão exaltados, mostre à criança que o amigo ficou triste e machucado. É importante considerar que o conceito de dor, como o de outras sensações, é construído. Imaginar-se no lugar do outro é um excelente exercício para despertar a percepção das conseqüências das ações que se pratica.
Por mais que pareça a melhor medida, o isolamento da criança não resolve o problema. Aprende-se a conviver bem experimentando a convivência. Ao mesmo tempo, dê mais atenção às crianças para reduzir a incidência de ataques. Antecipe a ação negativa intervindo para evitar que a criança reincida. É preciso aprender a identificar o contexto dentro do qual ela apela para a mordida. Assim, quando estiver diante da situação-limite, a criança terá a chance de ser estimulada a trocar a comunicação corporal pela argumentação verbal.
Impeça que a criança sinta-se premiada com o comportamento inadequado. Ela não deve usufrui daquilo que conquistou à base da mordida (isso vale também para chutes, beliscões, tapas e arranhões). Além disso, estimule sempre um pedido de desculpas.Se você perceber a necessidade de ameaçar com uma medida punitiva, combine o que acontecerá se o ato voltar a ser praticado e cumpra o combinado. Voltar atrás é dizer que você não tem certeza de sua decisão. Vale lembrar que a punição não deve ser física e que a criança não deve ser humilhada.
Andréia Rizzo
Psicologia